Passei a mocidade esperando dar-te um beijo
Sei que agora é tarde, mas matei o meu desejo
É pena que os lábios gelados como os teus
Nao sintam o calor que eu conservei nos lábios meus
No teu funeral estás tão fria assim
Ai de mim, e dos beijos meus
Eu te esperei, minha querida
Mas só te beijei depois da vida
Nelson Cavaquinho
foto: Marta Bucher
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Depois da Vida
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Istamblues
deu na tevê, algo que você
nunca deve ter visto,
nem antes, e nem mesmo,
depois de Cristo.
deu na tevê, algo que você,
deve ter achado falso,
ou pensado, quem diria:
na Turquia, um papa descalço
rezando com Santa Sofia.
todo paradoxo será perdoado,
pode um padre budista,
ou um rabino trapista.
deve ser aceita,
toda e qualquer seita
da forma que ela exista.
o que deu na tevê,
você já deve saber,
que Deus ali é Alá,
de norte a sul,
e além também.
o que eu vi na tevê?
Roma de frente pra Meca,
naquela Mesquita Azul.
o mundo dizendo amém
de frente pra Istambul.
m.
foto: Rui Miguel Pereira
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
giracéus
um sonho com jeito
um tanto suspeito,
invade meu peito,
sem fazer alarde.
voando apressado,
um sonho com medo
de chegar atrasado,
no meio da tarde
da minha janela,
da minha retina,
que coisa mais bela,
a coisa mais fina.
um mar de aquarela
dançando no céu,
uma nuvem cigana,
Van Goghs ao léu.
a todo instante,
Monalisas sorrindo
um girassol gigante.
um sonho com jeito
um tanto suspeito,
invade meu peito,
sem fazer alarde.
voando apressado,
percorre meu corpo,
entra na meianoite
e sai à francesa,
pelo meiodia.
no melhor da festa,
cantando Lorena,
Luis Melodia:
“Azarro, alfazema”
e o sonho apressado
de alma pequena,
sequer esperou
pela fotografia.
m.
foto: Hugo Tinoco
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
[...]
gente que dá gosto na gente!
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
...
dúvida
sem fim:
não sei
se te levo comigo
ou se te deixo
em mim.
na verdade, não tenho dúvidas... vc, tita, não sai de mim! e eu gosto disso. :)
mister m
foto: Gilberto Figueiredo
domingo, 30 de novembro de 2008
É
sábado, 29 de novembro de 2008
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
leito e deleito
quero morrer
deixar a fama
morrer
com o nome na lama
sem aviso
nem telegrama
quero morrer
de ardor
furtar a cor
cessar a chama
deus que me valha
ou dalai lama
quero morrer
sem drama
de fraque
ou pijama
no meio da trama
do melodrama
quero morrer
à meianoite
ao meiodia
em plena folia
ou de um jeito
bem bacana
eu morreria
mil vezes de amor
na tua cama
eita... que tita ta me fazendo um bem que ninguém fez... = MEDO, ela num pode! :(
mister m.
foto: Gustavo Lucian
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
POEMAMBIGUO
quando a ordem
é do destino
não condeno
não reprimo
não cismo
nem adulo
foi abismo
eu pulo
acho que estou me encontrando em vc... "L" tipo, "...teu corpo combina com meu jeito..." um dia, num belo dia quem sabe a gente se encontra...
mister m.
foto: Carla Bento
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
desvão
Desencontrar-te
Num pulsar
De breves dores
Desenho em arte
Num calar
De sete cores
Despir-te em versos
Num falar
De leves noites
Desconcertar-te
Num olhar
De cenas vivas
Desfalecer-me
Nesse eco
Sem teu nome
m.
foto: Filomena Chito
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Aquarela
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...
Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...
Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Branco navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...
Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...
Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)...
Composição: Toquinho / Vinicius de Moraes / G.Morra / M.Fabrizio
foto: nielsen gomes
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
surrealidade virtual
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda primavera clima,
nem todo monte Everest,
nem toda chuva
cai bem em Bangladesh.
nem toda Hiroshima rima
com qualquer matéria,
seja ela irmã ou prima.
nem toda Gana é fome,
nem todo muro China.
quero mudar de nome,
quero mudar de idéia,
vou morar num bordel
lá em Pompéia,
e que venha o dilúvio,
quero me abrigar
aos pés do Vesúvio.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda chuva é ácida,
nem toda música clássica,
Ludvig Beethoven era surdo,
Arthur Rimbaud ficou louco,
Dolores Duran,
durou muito pouco,
Freud e Lacan
deitavam no mesmo divã.
chose de loque, Bono Vox,
deu no jornal, usou botox
made in Bangcoc.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
a partir de amanhã,
não vou sair de casa,
só vou sair de moda.
amanhã serei chique:
um nobre francês,
do século dezesseis
desfilando na fashion-week.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda rosa é Rilke,
nem toda pessoa Fernando,
nem todo Augusto é dos anjos,
nem todo domingo de ramos,
Graciliano era ateu,
antes ele do que eu.
Florbela sempre cai bem
na minha lapela,
ou nos olhos de alguém.
nem toda Hiroshima rima
comigo, com você,
com este poema sem arte,
que quis parecer Dali,
embora René o descarte.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
a pele muda
quero te contar
um segredo
em braile.
dá-me então teu corpo,
que está tudo aqui,
na ponta dos dedos.
m.
foto: André Salcedo
terça-feira, 28 de outubro de 2008
lume era
m.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
come on
conserta essa asa, meu bem,
vê se passa aqui em casa,
vem, vem ver como dorme
essa minha epiderme,
traz a tua, alisa minha,
deleite do meu update,
faz do meu coração
underground um degrau,
faz uma canção, um recital,
que tal um blues, um bolero,
morrer de você é tudo
aquilo o que eu mais quero.
esquece a gravidade da lei,
flutua nua em pêlo meu jardim,
desbrava meu novo planeta,
antes que essa lua cometa
aquele crime de lesa-alma:
um arakiri dentro de mim.
vem, meu bem, sem calma,
vem deitar na minha lama
a sós com os meus lençóis,
vem, que eu faço de você
a mais bela tela de Monet,
ou quem sabe um Kandinski
concretamente abstrato,
ou um hai-kai de Leminski
do nosso tato imediato.
conserta essa asa e vem,
vê se passa aqui em casa,
essa noite nem vou sair,
vem desligar da tomada
o eco dessa tua risada
que não me deixa dormir.
m.
foto: Júlio Riccó
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Os Três Mal-Amados
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
será que ela vai conseguir esse feito!? de fazer o amor comer... "pois que coma tudo, se o caso for!"
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Se
E se você quiser
Posso dar um jeito de ser
O que você quiser
Para lhe fazer feliz
E assim, se frio fizer
Em sol me viro
Se você quiser...
E no calor serei a neve
E se chover, deixo lhe molhar
Se você quiser...
E se doer, faço passar
Se não passar, passo pra mim
Se você quiser...
E se chorar, serei seu lenço
E se cair, lhe dou a mão
Se você quiser...
E se sentir medo, eu protejo
E guardo até segredo
Se você quiser...
E se esquecer, eu lembro
E não me permito falhar
Se você quiser...
Uma música
Uma noite
Uma piada
Um sorvete
Um ombro
Um sorriso
Um beijo
Um abraço
Posso dar um jeito de ser
O que você quiser
Para te fazer feliz
mister m.
foto: Hugo
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Apagar-me
Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.
Paulo Leminsk
Foto: Lena Queiroz
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Roda Viva - trechos
[...] Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu [...]
[...] A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá [...]
[...] A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá [...]
[...] A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou [...]
[...] O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou [...]
[...] Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração [...]
Composição: Chico Buarque
foto: Lenice Barbosa
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
[...]
"A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas".
Clarice Lispector
foto: Salvador Medina
Valeu Mandoca!!!
domingo, 5 de outubro de 2008
Restos de Carnaval
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
A dor do não vivido
Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável; o sofrimento é opcional.
Carlos Drummond de Andrade
foto: Pedro Moreira
motim
eu quando quero
não espero,
me desespero
quando quero,
não pondero,
eu incendeio,
eu incinero,
repito Roma,
um novo Nero,
eu quando quero
não modero,
me destempero
quando quero,
saio do sério,
eu desagrego,
eu exagero,
rasgo a Ilíada,
insulto Homero,
quando quero
eu me espalho,
eu reverbero,
[noves fora zero]
eu banco o Che,
revoluciono
quando quero
você.
mister m
foto: francisco garret
terça-feira, 30 de setembro de 2008
flor ever
quero ser tudo
quero ser tão
ser mar e mais
quero ser seu
para você flores ser
flor star
flor ever
m
foto: Pedro Casquilho
domingo, 28 de setembro de 2008
SOL MAIOR
O seu sorriso
é uma coisa séria,
a parte mais que perfeita
da sua matéria;
um misto, um mistério
estampado na cara,
um espanto no tédio,
meu santo remédio
essa coisa rara.
Não tem Monalisa
nem Scarlett O´hara,
ninguém jamais
sorriu assim pra mim,
tão mar, tão marfim,
só o seu sorriso
tem esse corte preciso
que faz do improvável
o meu melhor improviso,
e nada mais
se faz tão lindo,
do que você assim
sol rindo.
mister m
foto: dela!
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
sentilena
sinto muito, meu amor,
a minha falha memória,
o meu passado sem glória,
todo esse estupor;
o meu estado de choque,
a velha falta de tato,
e minha alma sem retoque,
nunca me deram ibope.
sinto muito, meu amor,
a minha falta de sorte,
o meu futuro sem norte,
esse meu isso ou aquilo,
em tudo que às vezes calo,
verdade, não tenho estilo,
escreva o que eu não digo,
prefiro viver de estalo.
sinto muito, meu amor,
a minha falta de assunto,
o meu dito pelo não dito,
se eu não aprecio Caetano,
nem acho Chico tão bonito,
se o meu cigarro incomoda,
e aquele jeans esquisito
já anda fora de moda.
eu sinto o muito, meu amor,
ah como sinto,
e serei sucinto ao dizer,
que a minha vida,
de tão pequena,
não cabe mais em você.
mister m
foto: Patrícia B
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Condições e conseqüências.
Se os maridos fossem santos,
não havia traição.
Se as esposas fossem mudas,
evitavam confusão.
Se o desejo fosse mutuo,
não seria obsessão.
Se a certeza fosse tanta,
ninguém tinha objeção.
Se o pedido for negado,
haverá reclamação.
Se a verdade fosse dita,
acalmava a situação.
Se a justiça fosse feita,
não cabia apelação.
Se o amor não acabasse,
pra que a separação¿
Se a beleza fosse eterna,
não causava a impressão.
Se o garoto fosse quieto,
gerava preocupação.
Se o lar fosse sagrado,
afastava a tentação.
Se o pecado fosse dito,
consentia o perdão.
Se a fé fosse infinita,
alcançava a salvação.
Se a cruz fosse pesada,
aumentava a redenção.
Se a doença fosse grave,
não bastava a oração.
Se o poço fosse fundo,
não tocávamos no chão.
Se um dia viajasse,
mandaria um cartão.
Se a estrada é comprida,
muita determinação.
Se a passagem for escura,
no final tem um clarão.
Se o caminho é perigoso,
necessita atenção.
Se o destino for traçado,
não permite alteração.
Se a sorte for lançada,
pode dar o azarão.
Se o céu fosse mais próximo,
eu tocava com a mão.
Se as estrelas fossem perto,
eu catava um montão.
Se a batalha fosse ganha,
haveria aclamação.
Se a paz fosse selada,
não vendia o canhão.
Se o jogo fosse empate,
parecia armação.
Se a vitória fosse certa,
não teria emoção.
Se a safra é generosa,
não devia faltar pão.
Se o mar fosse potável,
desviava pro sertão.
Se o pão for dividido,
não terá inanição.
Se a vida fosse fácil, parecia ilusão.
Se o dinheiro tudo compra, vou vender a solidão.
Suelyton Melo
foto: Hugo
sábado, 23 de agosto de 2008
terça-feira, 12 de agosto de 2008
sábado, 2 de agosto de 2008
Acontece
Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.
Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.
Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.
Que entrevista espaçosa e especial!
Pablo Neruda
foto: Ana Maria Rocha
terça-feira, 29 de julho de 2008
sexta-feira, 25 de julho de 2008
a beautiful day
já quis ser Leminski,
Mallarmé, Baudelaire,
um quadro
em Kandinski,
Macalé, um Pelé,
uma Natasha Kinski,
se fosse mulher;
quem nunca quis,
e quem não quer
ser uma Leila Diniz,
ou Camille Cloudel,
uma Angelina Jolie
com aquela boca,
uma coisa louca!
pois eu já quis
usar Botox,
ser Bono Vox
a beautiful day,
Waly Salomão,
Itamar Assunção,
e até Doris Day.
eu já quis ser Rimbaud,
Alencar, Allan Poe,
qualquer um de Machado,
quis fugir pela África
como o mais procurado;
quis bater em Fidel,
escrever como Gabo,
pra ganhar meu Nobel.
eu já quis clonar,
ser clonado,
ser um super-herói
de brinquedo,
sem ódio, sem medo,
um Chapolim Colorado;
já quis ser ou não ser,
eis a questão,
dentre outras tantas,
ser eu sempre quis,
e nem me importo
em morrer depois dos trinta
num quarto de hotel
de quinta,
mas que seja
em Paris.
mister m
foto: alina maria sousa
segunda-feira, 21 de julho de 2008
isto feito
estufe o peito,
ria na cara
desse sujeito,
o tal efeito
que deixa o sol risonho
muito mais cruel.
buraco na cortina
de ozônio
expondo o céu.
estufe o peito,
empunhe a sua baioneta,
encare os raios,
faça um ultra-buquê
de suas violetas.
nem uvA, nem uvB,
seja mais você!
estie essa chuva ácida,
que chova sobre nós
apenas música clássica:
gotas de Mozart,
temporais de Bach,
invernos inteiros
de Vivaldi ao violino
sobre os canteiros.
estufe o peito,
rasgue a camisa,
aponte aos raios
uma outra direção,
deixe que o aquecimento,
dito global,
invada o quintal
do seu
coração.
mister m
foto: Thaís D'Angelo
quinta-feira, 17 de julho de 2008
segunda-feira, 14 de julho de 2008
sexta-feira, 11 de julho de 2008
*firme, frágil, sutil*
diante de tua ausência
austera,
fria,
vagas deveriam ser as lembranças
contudo,
confesso confuso
que a saudade me invade a cada
vago instante
e deste modo, a cada segundo posso afirmar
firme,
frágil,
que hoje meu maior desejo é recuperar
o teu afeto,
os teus afagos,
e não por acaso, agora
me esforço em comprar
frases,
palavras,
que mal sei o significado
ao amar,
todavia,
é possível descobrir-se capaz, de forma
sutil,
transformar lágrimas tortuosas
em doce poesia
e também,
é possível descobrir
"que ninguém é
auto-suficiente
que não possa
rastejar"
foto: Emerson Barbosa
segunda-feira, 7 de julho de 2008
jardineiro fiel
jardim secreto
Da cabeça de Múcio L Góes
sábado, 5 de julho de 2008
[...]
e hoje, quando ele
apareceu,
ela era só breu
e sóbrio eu,
tudo vi,
quando um cigarro acendi
que tristeza,
marina pequena
sol fazia pena
foto: Rosalina Afonso
quarta-feira, 2 de julho de 2008
balada para a bela Inês
sexta-feira, 27 de junho de 2008
A língua girava no céu da boca
Extraído do livro "O amor natural", Editora Record – RJ, 1992, pág. 29.
domingo, 22 de junho de 2008
[...]
nunca quis ser freguês distinto
pedindo isso e aquilo
vinho tinto
vinho tinto
obrigado
hasta la vista
queria entrar
com os dois pés
no peito dos porteiros
dizendo pro espelho
- cala a boca
e pro relógio
abaixo os ponteiros
terça-feira, 17 de junho de 2008
Tempo de menino
Achava lindo quando era São João
Numa palhoça, um sanfoneiro animado
Puxava o fole entoando uma canção
A molecada se juntava no terreiro
E, mesmo sem dinheiro não faltava diversão
Brincar de pega, de esconder, de cabra-cega
Pular fogueira, pau-de-sebo ou garrafão
Dançar quadrilha era tudo que eu queria
Mas era novo e não sabia dançar, não!
Então ficava observando, abestalhado
Atordoado com a beleza de um balão
Naquele tempo a meninada inocente
Ficava a gente admirado com o clarão
Que deslizando pelo céu piscava longe
Alimentando aquela doce ilusão
Quando a quadrilha terminava era de dia
Toda Maria encontrara seu João
Agora fico revirando o pensamento
Volto no tempo e não contenho a emoção.
poesia: Suelyton Melo
foto: Kiko Neto
domingo, 15 de junho de 2008
Hoje
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Retiro
Quando o mar, meu confidente,
Empresta o sal à brisa fresca da manhã.
Eu deixo passos fundos na areia branca
Quando a brisa, minha companheira,
Provoca o vai-e-vem das ondas.
Eu miro o sol que brilha sobre nós
Mergulha em nuvens para não me enrubescer.
Eu sinto o véu de água sob os pés
Quando a água, minha namorada,
Alisa a areia provocando espuma.
Eu logo mudo a trajetória evitando as ondas
Quando a areia, minha delatora,
Revela o novo rumo que tomei.
Eu busco segurança sobre as pedras
E, quando as pedras, meros figurantes,
Acatam os fortes golpes das ondas do mar.
Eu deito e fico contemplando as nuvens.
domingo, 8 de junho de 2008
temporão
hoje
eu vou
mudar de ares
vou
colorir
os colares
hoje
eu vou
quebrar o clima
dar
um tapa
na solidão
hoje
é dia
de faxina
aqui no meu porão
poesia: mister m
foto: antonio costa
terça-feira, 3 de junho de 2008
curta esse curta
esse filme não tem replay,
só vai passar uma vez
na frente da sua janela.
corra enquanto é tempo,
cinzas na boca do vento,
esse filme não vai deixar.
ponha seu vestido francês,
faça um coque no cabelo,
que esse filme, para vê-lo,
é preciso tal elegância,
como naquele filme inglês,
que você viu certa vez
lá nos meados da infância.
corra enquanto é tempo,
cinzas na boca do vento,
esse filme não vai deixar.
ponha um cravo na lapela
dessa sua janela sem cor,
capriche naquele perfume,
que encanta até vagalume
com o doce do seu olor.
e assim, preste a atenção,
para não cometer engano,
naquela cena de emoção,
sou eu o ator principal,
que acena e diz
eu te amo.
poesia: mister m
foto: Pedro Monteiro
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Mah e o tempo
bom é lembrar
que o mar
está sempre lá...
ah! os tempos de mah,
nostalgia...
satisfaz recordar
que há mah é viver,
frustrante perceber,
e agora avaliar,
o quanto eram bons,
encontros
em mesa de bar.
para Maria
poesia: thi e zé
foto: Pedro Casquilho
quinta-feira, 29 de maio de 2008
corpo seguro
ontem
choveu como
se fosse maio
e como se
não fosse
parar jamais
até choveu estrelas
para alegria
dos casais
só chove assim
quando eu caio,
tu cais.
Poesia: Mucio Góes
Foto: pedro casquilho
domingo, 25 de maio de 2008
papel passado
houve um tempo
em que nossas lembranças
eram incríveis,
lembrávamos um do outro,
éramos infalíveis.
hoje a nossa memória
anda carente de indícios,
as cartas que um dia trocamos
não passam de vestígios
fenícios.
poesia: mister m
foto: Emanuel Amaral