quarta-feira, 5 de novembro de 2008

surrealidade virtual

nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda primavera clima,
nem todo monte Everest,
nem toda chuva
cai bem em Bangladesh.
nem toda Hiroshima rima
com qualquer matéria,
seja ela irmã ou prima.
nem toda Gana é fome,
nem todo muro China.
quero mudar de nome,
quero mudar de idéia,
vou morar num bordel
lá em Pompéia,
e que venha o dilúvio,
quero me abrigar
aos pés do Vesúvio.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda chuva é ácida,
nem toda música clássica,
Ludvig Beethoven era surdo,
Arthur Rimbaud ficou louco,
Dolores Duran,
durou muito pouco,
Freud e Lacan
deitavam no mesmo divã.
chose de loque, Bono Vox,
deu no jornal, usou botox
made in Bangcoc.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
a partir de amanhã,
não vou sair de casa,
só vou sair de moda.
amanhã serei chique:
um nobre francês,
do século dezesseis
desfilando na fashion-week.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda rosa é Rilke,
nem toda pessoa Fernando,
nem todo Augusto é dos anjos,
nem todo domingo de ramos,
Graciliano era ateu,
antes ele do que eu.
Florbela sempre cai bem
na minha lapela,
ou nos olhos de alguém.
nem toda Hiroshima rima
comigo, com você,
com este poema sem arte,
que quis parecer Dali,
embora René o descarte.


m.
imagem:
Man Ray - Willem den Broeder

3 comentários:

Strog-ON-OFF disse...

o que dizer?
.............
(:

Kakau disse...

Adorei o poema.


beijos
=***

LetysKiss disse...

Nhaaa que lindo