sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

OH! LINDA DEMAIS

Tem dias que a vida parece nos limitar as possibilidades. É como se alguma espécie de anjo, arcanjo, secretário, força ou afins agisse num determinado esforço que nos paralisa. Quer saber? Até uma dorzinha de cabeça parece que vem a propósito. A cama parece grudar nas costas, e não há programa que nos sacie. Se o camarada gosta de algo, por exemplo, uma comida. Se o sujeito é louco por pizza, e se estiver dias sem comer é capaz de rejeitar a mais apetitosa.

Ele decidiu aceitar passivamente a situação.

O roteiro cama/cozinha já estava saturado. Na TV o tal Big Brother nunca foi sua praia. Abriu uma cerveja, ligou o computador, e logo viu na caixa de entrada alguns e-mails de propaganda. Embalado pelo clima, sentiu-se bastante desimportante e desligou a máquina.

Jogado no sofá, copo na mão, ligou o som. No rádio Lenine cantava Paciência, e antes do fim da canção, ele adormeceu. De repente um sonho. Um sonho agradável. Numa ruela de Olinda um bloco, um bloco só de mulheres, muitas, e ele no centro de tudo, fascinado com aquela visão. Todas elas usavam máscaras, e todas as máscaras eram iguais. Em vão, tentava descobrir seus rostos, mas sequer conseguia tocá-las. Esfregava os olhos, parecia um sonho, e agora todas elas eram Colombinas, e dançavam em sua volta, até que uma delas se aproximou, mostrou o rosto, e lhe deu um rápido beijo antes de sumir no ar.

Acordou. Atordoado trocou de roupas pensando no que sonhou.

O telefone! Uma amiga chamando para uma volta na cidade. Olinda sempre foi um convite interessante, imagina às vésperas do carnaval. Meio a contragosto resolveu aceitar e lá se foi sem esperanças de melhorar o dia.

Fulano havia dito a sicrano de um show de não sei quem, não sabia bem aonde, mas que seria legal. E lá foram os dois conversando ruas afora até que acharam o local, pero, atrasados. Sem show, nem vela, rumaram para o Carmo, tomar umas cervejas num dos barzinhos da região. Foi ali, na companhia da amiga e de mais outra amiga, essa, amiga da amiga. De cara percebeu que a amiga da amiga era do tipo que ninguém quer como inimiga. Lembrou-se nunca ter conhecido uma mulher que usasse peruca. E não é que ela fica uma graça com suas melenas negras? Deu-lhe certo ar de menina, meio moleca, sapeca. Lembrou que lera nalgum lugar sobre o “perigo” que meninas podem representar, como verdadeiras ‘smart-bombs’. Mas, como falou Freud, quem sai na chuva é para se queimar.

Conversas, sorrisos, cervejas e olhares, não necessariamente nessa ordem, fizeram correr os ponteiros. Depois das despedidas, já em casa, na cama, buscando o sono. Uma imagem, ou melhor, um rosto lindo no horizonte limitado do quarto escuro. Dois olhos castanhos, o largo sorriso, aquela doçura. O resto da noite correu, e no quarto escuro, ele e o teto.

Pulou da cama para o chuveiro. Tinha marcado almoçar com elas, já que domingo não deve ser apenas aquele dia chato em que ficamos em casa pensando porque domingos são sempre tão chatos. Depois do almoço, e de ter prestado mais atenção na moça que na comida, - ela agora sem a peruca, com seu cacheado castanho ainda mais bela - saíram para bater pernas. Olinda às vésperas de momo vira um só bloco, basta abrir a porta e uma troça carrega o sujeito ladeira abaixo. Mas, em se tratando de carnaval multicultural, nada de se estranhar ao encontrar um trio de forró numa esquina marcando o ritmo.

E foi assim, num forró em fevereiro, num barzinho em Olinda que de repente um sonho, num desses dias que a vida parece nos limitar as possibilidades; um beijo mostrou a um cara entediado que qualquer domingo fica lindo com aquela moça por perto, e sorrindo.


Baseado em fotos reais


Múcio Góes.
Foto: Rodrigo Dias

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