domingo, 27 de abril de 2008

...

Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.

Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)
Gabriel García Márquez
foto: Antonio Louro

sábado, 26 de abril de 2008

apelo à pele

baby,
nosso deslize
merece reprise,
baby, agilize,
faça seu marco
na minha marquise,
pise com força,
baby, barbarize,
[sem crise]
me faça um verso,
verbalize,
ponha o dedo
na ferida,
baby, cicatrize,
venha com calma,
take it easy,
chegue
no meio da noite,
não me avise,
levante meu lençol,
baby,

e deslize.

Poesia: m
foto: Raramago

quarta-feira, 23 de abril de 2008

confissão de febre

lamber tua pele
quem me dera
provar do teu doce
saber o sabor
do teu licor
quem dera fosse

quem me dera

flor

eh, eh pra vc... L*
poesia: m
foto: José Gama

...



foto: rafa

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Infinito amor

Eis que atendeste ao chamado do senhor. Regozija-te com isso, que é de alegria e prazer a casa que te está reservada nos céus. E os espiritos celestes hão de ensinar-te o caminho que ainda é novo para ti; Caminho cheio de graças.


Andarás por alamedas floridas e colherás os frutos das árvores do senhor, e estes estarão sempre doces
A luz do espírito a ti ilumina-rá eternamente. e tu sorrirás, em tua plenitude. E ouvirás a música jamais sonhada pelos que habitam a terra. E tudo será suavidade, harmonia, quietude. Conquistaste finalmente a vida e a liberdade.

E eu, que fiquei, não hei de chorar se não pela alegria de teu triunfo. Voinho, hás de ficar o resto dos dias em meu coração. Hei de fazer de tua saudade inspiração e docura. Tua lembrança será uma estrela guia a me iluminar o caminho da alegria e da beleza. Por teu amor serei venturoso.
Bem-aventurado seja o senhor, por fazer da morte a coroação da vida. Bem-aventurado sejas tu, por finalmente conquistares a felicidade e desfrutares da compainha de nosso Pai.
Eis que vives, e é este o teu mais belo momento de vida.
Dou graças a Deus pelo privilégio de ter sido escolhido, entre tantos, teu parceiro na terra; E escolhido para dizer-te um adeus emocionado, pois agradavél foi o tempo em que estiveste comigo. Meu amor será eterno como eterna minha gratidão, pois os bens do espírito não se perdem jamais.

Alegra-te, pois com a tua viagem. Caminha com confiança, que os melhores dias te aguardam. Vai, e não olhes para trás.
Consagra-te ao senhor. E tua cabeça há de estar coroada quando repousares sob a sombra da grande árvaore do paraíso.


Que assim seja.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

oceanos-luz


você distante,
de tudo dista.

você distante
tudo avista.

você diz tanto
sem que eu insista,

mesmo distante,
assim calada,

você diz tanto
quando não diz nada.

texto: m
imagem: @gonçalves.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

maybe, baby!

baby, talvez amanhã, talvez,
pode ser que eu desista,
dessa falta de assunto
que aqui dentro de mim hesita.
quem sabe, amanhã, quem sabe,
eu não tomo aquele elixir,
feito da água de colônia,
que irriga os jardins
dessa minha babilônia.
quem sabe, amanhã, baby,
não me surge uma outra idéia?
pandora, quimera, pangéia,
investígios dessa origem antiga.
eu partido, eu assim, conjunto,
deuses dançando na chuva,
ao som de uma mesma cantiga.
talvez, amanhã, talvez,
pode ser que eu desista
dessa minha falta de assunto:
quanto mais de mim me separo,
mais me deparo de mim tão junto


poesia: m
foto: Karina

terça-feira, 15 de abril de 2008

Se

E se você quiser
Posso dar um jeito de ser
O que você quiser
Para lhe fazer feliz

E assim, se frio fizer
Em sol me viro
Se você quiser...
E no calor serei a neve
E se chover, deixo lhe molhar
Se você quiser...
E se doer, faço passar
Se não passar, passo pra mim
Se você quiser...
E se chorar, serei seu lenço
E se cair, lhe dou a mão
Se você quiser...
E se sentir medo, eu protejo
E guardo até segredo
Se você quiser...
E se esquecer, eu lembro
E não me permito falhar
Se você quiser...

Uma música
Uma noite
Uma piada
Um sorvete
Um ombro
Um sorriso
Um beijo
Um abraço

Posso dar um jeito de ser
O que você quiser
Para lhe fazer feliz

Enfim, quero que saiba
Que até perco a memória
E invento outra história
Onde melhor lhe caiba
Se você quiser...


para quem anda me f... a alma!
poesia: m
foto: Márcio Machado

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.

William Shakespeare

domingo, 13 de abril de 2008

"Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo."

Confúcio

Faloupenso

Para pensar como falo
Eu falo então como penso
Se muitas vezes me calo
Parece que fico tenso

Não quero cantar de galo
Nem apelar pro bom senso

Quem duvidar do que falo
É pra saber como penso
Como poder condená-lo
Se aceitá-lo é consenso?

Não pense que me abalo
Eu calo, logo dispenso.

Às vezes penso e não falo
Ou falo, falo e não penso.
Será que penso que falo
E calo, assim eu compenso?

Se penso em tudo e me calo
É por que nem sempre venço.



poesia: Suelyton Melo
foto: Ana Maria Russo

quinta-feira, 10 de abril de 2008

come on

conserta essa asa, meu bem,
vê se passa aqui em casa,
vem, vem ver como dorme
essa minha epiderme,
traz a tua, alisa minha,
deleite do meu update,
faz do meu coração
underground um degrau,
faz uma canção, um recital,
que tal um blues, um bolero,
morrer de você é tudo
aquilo o que eu mais quero.
esquece a gravidade da lei,
flutua nua em pêlo meu jardim,
desbrava meu novo planeta,
antes que essa lua cometa
aquele crime de lesa-alma:
um arakiri dentro de mim.
vem, meu bem, sem calma,
vem deitar na minha lama
a sós com os meus lençóis,
vem, que eu faço de você
a mais bela tela de Monet,
ou quem sabe um Kandinski
concretamente abstrato,
ou um hai-kai de Leminski
do nosso tato imediato.
conserta essa asa e vem,
vê se passa aqui em casa,
essa noite nem vou sair,
vem desligar da tomada
o eco dessa tua risada
que não me deixa dormir.

poesia: m

foto: Luís Mendonça

Ainda para quem anda me F... sem penetração

terça-feira, 8 de abril de 2008

nem



é o fim

essa falta de você

em mim




*ainda para quem anda me f... sem penetração.

foto: APS

poetrix: m

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Um mote

É bonito um romance à beira-mar
É bonito se querer
É bonito um romance à beira-mar
Todo amor é bonito de se ver

É bonito um casal de passarinhos
Pela relva à procura de um abrigo
Um lugar mais seguro para o ninho
Onde o ovo não vai correr perigo
Pois enquanto ele sai para caçar no seu vôo veloz e destemido
Ela fica de alerta no lugar
Protegendo o seu filhote querido

É bonito um casal adolescente
Abraçado no banco da pracinha
Num namoro feliz e inocente
Se beijando e pegando na mãozinha
Sem saber se esse amor que agora sente pode ser para a vida inteirinha
Ela jura “eu te amo eternamente”
E ele diz “pois então você é minha”

É bonito um casal enamorado
Envolvido na trama da paixão
Transformar o seu namoro num noivado
Sem se quer procurar opinião
Nesse jogo de amor e sedução caminhar pelas ruas do pecado
Ser xingado, oprimido e criticado
E depois se casar sem permissão

Quando o homem já tá em despedida
E o peso dos anos lhe quebra o porte
É preciso também ter muita sorte
Pra de novo encontrar a pretendida
A metade que lhe foi prometida, ele amarra com um laço muito forte!

Pois,

É bonito amar no fim da vida e querer ser feliz até a morte.


Poesia: Suelyton Melo
foto: Dinis Cortes

quarta-feira, 2 de abril de 2008

bi-labial

é nos teus lábios
que meus problemas
se tornam amenos,

tanto os grandes
como os pequenos.


poesia: m
foto: Mazé Mixo

terça-feira, 1 de abril de 2008

último romance

Era ali, no final da Rua da Luz, sob o número 98, que morava o senhor Baltazar de Castro. Sua casa era um antigo sobrado com alpendre lateral, cuja frente ostentava um belo e bem cuidado jardim com suas begônias, avencas e gardênias; tarefa que cabia ao proprietário executar, e que o mesmo fazia com esmero e prazer. Era comum passar à frente de sua casa todas as manhãs e vê-lo na sua terapia. Seu Bal, como era conhecido no bairro inteiro, morava sozinho há quase vinte anos, desde que enviuvou, ou, como ele mesmo falava, “quando metade do meu sol se pôs”. Dona Henriqueta partiu quando o marido tinha sessenta anos, e enquanto juntos, sempre foram exemplo de companheirismo e amor para todos. Era muito comum encontrá-los de mãos dadas a passear nas ruas daquela pacata cidade, ou na missa dominical. Ao divertimento guardavam o sábado à noite, onde assistiam a algum filme no cinema Apolo. Ele em seu porte atlético de nadador costumaz, e ela em sua delicadeza de moça bem criada, eram admirados ao passar. Não tiveram filhos, e viveram juntos quarenta anos, até que o coração dela parou. Abatido, seu Bal ficou meses recluso, era visto raras vezes no jardim, num desleixo só. Barba por fazer, cabelos por cortar. Segundo um seu criado, estava padecendo de uma febre quartã.

Um belo dia, numa quarta-feira de uma primavera tardia, já passando das sete da noite, eis que surge no portão seu Bal. Devidamente trajado num conjunto de terno branco em linho, gravata da mesma cor, um belo chapéu de Panamá, um cravo na lapela, um lenço todo embebido em água de colônia; cruzou o portão numa mudez gritante, e seguiu a rua imune a olhares e cumprimentos. Incrédulos, os vizinhos o viram dobrar à direita na esquina da rua da Luz com a Visconde Negro, era o baixo meretrício. Lá chegando, foi bem recebido pela dona da casa, que lhe pôs numa mesa confortável e lhe trouxe umas meninas. Seu Bal tomou um gym puro, escolheu a mais novinha e subiu para o quarto. A partir daquele dia, pelos próximos vinte anos, deu-se o ritual das quartas-feiras à noite. O bairro se acostumou àquela cena, e sua passagem no dia tal, já virara até referencial de dia e hora, “hoje é terça ou quarta?”, perguntava-se, “hoje é quarta, seu Bal está vindo ali”, retrucava-se. E sempre o mesmo traje, a mesma elegância, a mesma mudez.

E assim foi, que numa quarta, justo dia 8 de novembro, quando completavam-se vinte anos do passamento de dona Henriqueta; seu Bal cruzou o portão. Seguiu o trajeto em sua segurança inquebrantável, como um autômato, dobrou na Visconde Negro, entrou no lupanar, tomou seu gym, pegou pelo braço a menina mais nova, e seguiu para a alcova mesma, desde a primeira vez. Despiu-se no escuro como sempre fizera, e no mesmo breu, fez ali o seu amor de plástico, e gozou como nunca havia, e virou-se pro lado, e ainda ofegante cochilou, e do cochilo refazedor enveredou pelo sono pesado, e do sono ao sonho foi um pulo, e lá, no portão da casa do sonho, estava Henriqueta, de mãos estendidas a sorrir, e ele sorriu, e em passos tétricos foi até ela, se abraçaram, e depois de um longo beijo seguiram pela rua da Luz e nunca mais foram vistos.


texto: m
foto: Paulo Cezar

em nome da paixão

Nada de novo por dizer, a não ser
Outro amor que invadiu a minha vida pra valer

Quero o perigo da paixão
Por que não ? Meu irmão !
Bem melhor que viver na solidão

Ainda ontem eu era tão triste sem ninguém
Mas, agora...
Ah, agora eu tenho um amor que me quer bem

Geralmente a paixão quando bate é de repente
Invade a gente estranhamente
Num jogo de amor e sedução

O amor é isso, ele é mais que bem mais
Que um compromisso, é submissão
Assumo isso !
E Assim,
Sim !
Em nome da paixão.


poesia: Suelyton Melo
foto: Paulo Almeida