quinta-feira, 15 de maio de 2008

em letras mudas

Era uma dessas noites em que o que se vê além da vidraça é aquela névoa que se dá nos outonos, e que nos incita mais à cama que a enfrentá-la nas ruas. Olinda anoiteceu assim àquele sábado. As pedras centenárias de suas ruas brilhavam ao longe, úmidas e mudas. Descer as ladeiras de cara para a brisa glacial que fazia, só mediante um convite irresistível. A cara no espelho era a mesma que saiu do sono após o almoço. E vontade mesmo, tinha apenas a de voltar aos braços de Morfeu; coisa que uma chamada no telefone logo se encarregou de fazê-lo mudar de idéia. Alguém “queria conversar um pouco”, e apesar do frio e da preguiça, ele tratou de oferecer os ouvidos, e até um ombro, caso necessário.

Nenhum arsenal de possibilidades na praça do mesmo nome. Uma música qualquer. E o andar sem pressa das gentes, com a mesma chuva fina e fria insistindo em manter o ar impregnado de preguiça e parcimônia de gestos. Um vinho barato. Um bêbado que passa. Onde estaria o quê de irresistível num convite desses? Na companhia agradável dos amigos. No sarcasmo “wildeano” de Gabito. Na graça do sorriso de Tarcila. Na malícia morena de Day. Na doçura de Mah. Ali estavam, protegidos do frio na cumplicidade dos seus pares, mesmo que sentados no chão.

Seguiu a noite lenta e úmida, e do grupo ouvia-se ao longe as gargalhadas. A atmosfera de alegria dominava a cena, e por muito pouco se notava que chovia. Foi quando aquele coração apertado encontrou os ouvidos abertos: deu-se o monólogo. O que ouvia acariciava o que falava. No início, olho a olho; depois umas mãos passeavam pelo rosto dela; afastava umas mechas aqui e ali; sonhava-se além. E logo mais eram ombro e cabeça. Pulsar e sentir. E o que se falava já não se ouvia. E a mesma chuva fina e fria seguia no ar. E agora já eram só abraços, e sequer viam um ao outro, mas eram vistos, e para estes: felizes desde muito. Chuva. Vinho. Um cigarro, outro. Silêncio. Abraço. Música. Tudo foi dito em letras mudas, toques cegos. E não tardou a chuva trazer o sol, e o destino fechar as cortinas. E lá se foram os amigos. E um bêbado que passou, percebeu dentre eles que apenas um casal seguiu de mãos dadas.


baseado em fotos reais.
foto: ricardo costa.
texto: mister m.



6 comentários:

anônimo disse...

aeee thiaaaago, tá do caraaaaalho, mas vem cá, como tu modou o layout?
Oo.
ADOREEEEEI! :*

Juliana Azoubel,
linka ai a gente. :)

- disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luana Fernandes disse...

Faaaala, Thiagoo! :DD
Realmente, o texto tá show!
Todo mundo interagindo nos blogs!
Que liindo! ;)

Beijão, das meninaas! ;***

Anônimo disse...

Olha o nosso sábado passado!
:D

beijo thi!;*

isa.

Unknown disse...

Aew thiago, teu blog tá fodastico doido!


tá massa mesmo


flws!

Unknown disse...

"TUDO foi dito em letras mudas"...
perfeito ! :D

:***