Demorei dias para chegar aqui. Cheguei. Lápis e papel. Passa da meia-noite. Sobre a mesinha perto da janela pouso os cotovelos agora. De sono, sequer vestígio. Daqui dá para ver o céu, e confesso: uma lua, qualquer que fosse, cairia muito bem. Assim eu poria em ordem as palavras que batem umas nas outras aqui dentro. Parece até carnaval. Olinda no domingo, seu ruge-ruge. A lua me acalma. É tanto por dizer, tanto que sinto, e mais outro tanto que luto para não sentir. Em vão. Ando mentindo sorrisos, coisa que nunca fiz. Cadê a lua?... Há céus em que as nuvens não deixam. Ando tão inverno nesse outono, você nem sabe... Passa da meia-noite, mas da janela vejo a rua lotada de casais, uns que passam em entrelaços, uns que bailam valsas imaginárias, uns que se beijam. Todos felizes, e têm as nossas caras. Sonho. Acordo. E a lua?... Engraçado, mas, por mais distante que esteja, quando ela aparece é sempre tão perto. Ando assim, meio lua, quanto mais longe, mais perto. E é no silêncio das insônias, numa ou outra fumaça de cigarro, é que doer mais dói. No que me apresenta a fertilidade da imaginação, nas perguntas que me faço, e respondo: “onde?”, “como?” ela estaria agora... As dores, estas me trouxeram aqui. Cheguei. Lápis e papel. A meia-noite já é passado. Saudade o meu presente. Ao futuro deixo as incertezas, e as luas que pedi e não vieram, trocaria todas por você.
"para quem anda me fodendo sem penetração"
texto: m
foto: Hugo amador
foto: Hugo amador