domingo, 30 de novembro de 2008

É

É muito mais que “fato” o que vou dizer:
Vem do coração o que me sai da boca,
Pois o que sinto é o que me leva a crer
Que tudo isso não é apenas paixão louca.
.
Se para fazer o pão é necessário o trigo,
O amor é o fermento que o faz crescer.
É nesse amor que encontro o meu abrigo,
E como desse pão para sobreviver...
.
Só ele me faz forte ao caminhar
Com a alegria de um amanhecer,
Tornando-me bem leve o respirar
.
E me leva aos quatro cantos para dizer,
O “fato” prometido ao começar:
Eu te amo, e não quero nem saber!
.
pois é, eu acho mesmo que te amo!
mister m
foto: Sofia Azevedo

sábado, 29 de novembro de 2008

Nós


É o que somos
Nós dois
Dois nós
Dois sãos, assim
Em si, um não
E a sós
Dois sóis, assim
Enfim, é o fim
Quando somos
Nós dois afim

tô afim de vc!
mister m.
Foto: Nuno S. Teixeira

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

leito e deleito

quero morrer
deixar a fama
morrer
com o nome na lama
sem aviso
nem telegrama
quero morrer
de ardor
furtar a cor
cessar a chama
deus que me valha
ou dalai lama
quero morrer
sem drama
de fraque
ou pijama
no meio da trama
do melodrama
quero morrer
à meianoite
ao meiodia
em plena folia
ou de um jeito
bem bacana

eu morreria
mil vezes de amor
na tua cama


eita... que tita ta me fazendo um bem que ninguém fez... = MEDO, ela num pode! :(
mister m.
foto: Gustavo Lucian

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

POEMAMBIGUO

quando a ordem
é do destino

não condeno
não reprimo

não cismo
nem adulo

foi abismo
eu pulo
acho que estou me encontrando em vc... "L" tipo, "...teu corpo combina com meu jeito..." um dia, num belo dia quem sabe a gente se encontra...
mister m.
foto: Carla Bento

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

desvão

Desencontrar-te
Num pulsar
De breves dores

Desenho em arte
Num calar
De sete cores

Despir-te em versos
Num falar
De leves noites

Desconcertar-te
Num olhar
De cenas vivas

Desfalecer-me
Nesse eco
Sem teu nome

m.
foto: Filomena Chito

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Aquarela

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...

Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Branco navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...

Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...

De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...

Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)...


Composição: Toquinho / Vinicius de Moraes / G.Morra / M.Fabrizio
foto: nielsen gomes

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

surrealidade virtual

nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda primavera clima,
nem todo monte Everest,
nem toda chuva
cai bem em Bangladesh.
nem toda Hiroshima rima
com qualquer matéria,
seja ela irmã ou prima.
nem toda Gana é fome,
nem todo muro China.
quero mudar de nome,
quero mudar de idéia,
vou morar num bordel
lá em Pompéia,
e que venha o dilúvio,
quero me abrigar
aos pés do Vesúvio.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda chuva é ácida,
nem toda música clássica,
Ludvig Beethoven era surdo,
Arthur Rimbaud ficou louco,
Dolores Duran,
durou muito pouco,
Freud e Lacan
deitavam no mesmo divã.
chose de loque, Bono Vox,
deu no jornal, usou botox
made in Bangcoc.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
a partir de amanhã,
não vou sair de casa,
só vou sair de moda.
amanhã serei chique:
um nobre francês,
do século dezesseis
desfilando na fashion-week.
nem toda Hiroshima rima
com flores, nem amores.
nem toda rosa é Rilke,
nem toda pessoa Fernando,
nem todo Augusto é dos anjos,
nem todo domingo de ramos,
Graciliano era ateu,
antes ele do que eu.
Florbela sempre cai bem
na minha lapela,
ou nos olhos de alguém.
nem toda Hiroshima rima
comigo, com você,
com este poema sem arte,
que quis parecer Dali,
embora René o descarte.


m.
imagem:
Man Ray - Willem den Broeder

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

a pele muda

quero te contar
um segredo
em braile.


dá-me então teu corpo,
que está tudo aqui,
na ponta dos dedos.

m.
foto: André Salcedo