sexta-feira, 30 de maio de 2008

Mah e o tempo

bom é lembrar
que o mar
está sempre lá...

ah! os tempos de mah,
nostalgia...
satisfaz recordar
que há mah é viver,

frustrante perceber,
e agora avaliar,
o quanto eram bons,
encontros
em mesa de bar.

para Maria

poesia: thi e zé

foto: Pedro Casquilho

quinta-feira, 29 de maio de 2008

corpo seguro

ontem
choveu como
se fosse maio

e como se
não fosse
parar jamais

até choveu estrelas
para alegria
dos casais

só chove assim
quando eu caio,

tu cais.


Poesia: Mucio Góes
Foto: pedro casquilho

domingo, 25 de maio de 2008

papel passado

houve um tempo
em que nossas lembranças
eram incríveis,
lembrávamos um do outro,
éramos infalíveis.

hoje a nossa memória
anda carente de indícios,
as cartas que um dia trocamos
não passam de vestígios
fenícios.

poesia: mister m
foto: Emanuel Amaral

quarta-feira, 21 de maio de 2008

menos

não fosse
esse outono,
diria ser verão.

em recife
faltam nuvens,
saudades

não.
ô L*** pq essa saudade insiste em fazer verão?! saudade estranha... de algo que nunca tive e ao mesmo tempo pareço ter sempre tão perto, sempre tão longe! :(
poesia: mister m
foto: tariana mara

domingo, 18 de maio de 2008

retina

nina, menina,
me dá uma pista,
se encena, me ensina,
sem que eu insista,
me assanha, me acena
tua senha, facilita
minha conquista.
me dá uma pista,
me nina, morena,
me ensina, me mostra
uma outra cena,
me diz do que gosta
a tua boca pequena,
me deixa sentar ao teu lado,
dançar colado contigo,
me deixa sentir o teu dentro,
teu abraço abrigo,
deixa que eu te lance
um laço, ou um míssil
de longo alcance.
morena menina,
me dá uma pista
antes que eu desista,
qualquer pista falsa,
que eu sigo a minha sina,
faço rock, um pop dessa valsa.
menina, me ensina,
como é que eu faço
para ver colada na tua
a minha retina.

como faço L***???
poesia: mister m
foto: David Sousa

quinta-feira, 15 de maio de 2008

em letras mudas

Era uma dessas noites em que o que se vê além da vidraça é aquela névoa que se dá nos outonos, e que nos incita mais à cama que a enfrentá-la nas ruas. Olinda anoiteceu assim àquele sábado. As pedras centenárias de suas ruas brilhavam ao longe, úmidas e mudas. Descer as ladeiras de cara para a brisa glacial que fazia, só mediante um convite irresistível. A cara no espelho era a mesma que saiu do sono após o almoço. E vontade mesmo, tinha apenas a de voltar aos braços de Morfeu; coisa que uma chamada no telefone logo se encarregou de fazê-lo mudar de idéia. Alguém “queria conversar um pouco”, e apesar do frio e da preguiça, ele tratou de oferecer os ouvidos, e até um ombro, caso necessário.

Nenhum arsenal de possibilidades na praça do mesmo nome. Uma música qualquer. E o andar sem pressa das gentes, com a mesma chuva fina e fria insistindo em manter o ar impregnado de preguiça e parcimônia de gestos. Um vinho barato. Um bêbado que passa. Onde estaria o quê de irresistível num convite desses? Na companhia agradável dos amigos. No sarcasmo “wildeano” de Gabito. Na graça do sorriso de Tarcila. Na malícia morena de Day. Na doçura de Mah. Ali estavam, protegidos do frio na cumplicidade dos seus pares, mesmo que sentados no chão.

Seguiu a noite lenta e úmida, e do grupo ouvia-se ao longe as gargalhadas. A atmosfera de alegria dominava a cena, e por muito pouco se notava que chovia. Foi quando aquele coração apertado encontrou os ouvidos abertos: deu-se o monólogo. O que ouvia acariciava o que falava. No início, olho a olho; depois umas mãos passeavam pelo rosto dela; afastava umas mechas aqui e ali; sonhava-se além. E logo mais eram ombro e cabeça. Pulsar e sentir. E o que se falava já não se ouvia. E a mesma chuva fina e fria seguia no ar. E agora já eram só abraços, e sequer viam um ao outro, mas eram vistos, e para estes: felizes desde muito. Chuva. Vinho. Um cigarro, outro. Silêncio. Abraço. Música. Tudo foi dito em letras mudas, toques cegos. E não tardou a chuva trazer o sol, e o destino fechar as cortinas. E lá se foram os amigos. E um bêbado que passou, percebeu dentre eles que apenas um casal seguiu de mãos dadas.


baseado em fotos reais.
foto: ricardo costa.
texto: mister m.



terça-feira, 13 de maio de 2008

adeus você

de você em mim
nada mais resta,
é chegado o fim
da festa,
nossa rave, quem diria,
virou seresta.
tombou em silêncio
a última árvore da velha floresta,
nada mais em mim
se manifesta
quando te vê,
tirei seu nome
da minha testa,
au revoir, adeus você!
não insista,
siga outra pista,
não vou mais
gastar o meu latim
game over, do in,
hasta la vista.


poesia: Múcio Góes
foto: Cris Malaquias

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

foto: Hugo Tinoco

domingo, 11 de maio de 2008

Convite

Quando eu a conheci
Você não era assim tão fria
Vivia a me admirar
Queria então, viver pra mim.

Porém você pecou
Fez-me um Deus do amor
Sequer tentou saber
Se eu via em você
Uma Afrodite

E agora acredite ou não
Cansei de ver meu coração
Sem apetite
E antes que ele grite em vão
Terei que achar a solução
E o meu palpite é

Amanhecermos nus
Cercados de lençóis
E nesse instante ateu
Serei seu Eros
Serei seu elo

Seu Deus e amor.


poesia: Suelyton Melo
foto: Paulo Almeida

sábado, 10 de maio de 2008

Poema

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
De um tempo em que era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim (que não tem fim)

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás


Cazuza
foto: Antonio Fonseca

quarta-feira, 7 de maio de 2008

por todo o hoje

Esse tempo que não passa,
nem passeia,
o tempo só me trapaceia,
enquanto lentamente passa,
coisa feia, fazendo pirraça
da desgraça alheia!
Esse tempo que não pára
lentamente de passar,
deixando tudo mais além,
melodia quebrando
o silêncio de alguém.
Pra que prece, pra que praça,
se esse tempo não tem pressa?
Quanto mais lentamente passa,
mais aumenta essa falta de ar,
esse estado ausente, latente,
esse hoje que não quer parar.
Esse cheiro romã, essa febre terçã,
até mesmo esse afã de nós dois,
tudo tem de esperar pra amanhã,
renegado a esse mero depois.


poesia: Múcio Góes

terça-feira, 6 de maio de 2008

crença e crescença

Tenho a virtude,
ou seria o defeito,
de acreditar em tudo
de tudo que é jeito.

Ver para crer,
desde quando?
basta me contar
e já estou acreditando.

Neste poema, por exemplo,
eu acredito,
mesmo não estando escrito.

E por incrível que pareça,
eu acredito até
em dor de cabeça.


poesia: Mister M
foto: Samy

segunda-feira, 5 de maio de 2008

soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

amo-te assim... mesmo sabendo que corro perigo, não tenho medo!
Vinicius de Moraes

domingo, 4 de maio de 2008

soneto de fidelidade

De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

é L... Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito...
Vinícius de Morais
Foto: Filipe Silva

sábado, 3 de maio de 2008

Uma valsinha pela noite

Ainda ontem, enquanto assistia a um filme sem assisti-lo, naquele divagar natural, em que os olhos fingem ver o que está à sua frente, me veio à tona, sabe-se bem de onde, aquela valsinha triste de quando brigávamos. A que você tinha num cd antigo, brinde de uma dessas revistas de fofocas. Rabiscando isso aqui, agora, saiu-me aquele riso tosco que você dizia gostar. Brotou porque nos vi tão comuns, lendo revistas de fofocas. Mas, voltando, a valsinha curtinha, tão singela ao piano de... de quem, mesmo? Ah, você sabe melhor que eu, leigo que sou nessa parte de música clássica. Pensando bem, virei um leigo total, posto que com competência, mesmo, o que sei atualmente é sentir sua falta.

Sei que a madrugada já tinha entrado, junto com os vizinhos. Aqui e ali latia um cão, e no resto que era silêncio, ela tocou, inteirinha em baixo som. Parecia vir de longe, trazia dentro uma brisa, um jeito de chuva, cheiro de saudades. Pra você ver, até de quando brigávamos sinto falta. Sua carinha emburrada, o quarto fechado, e a valsinha nos ecos... de quem é, mesmo... Chopin?... não, não... Sempre fui fã de violinos. E já brigamos por cada coisa... Lembra àquele dia à beira-mar? Que lugar, hein? As ondas lambendo a areia, e nossas vozes misturadas, você dizendo que olhei demais pra Laurinha na noite anterior. Até parece... Queria, mesmo, era ter te dado meu corpo, por um minuto, pra que sentisse o que se passava em mim, ao olhar aquele vestidinho de seda que te cobria meio sem querer... Ah, só você pra achar que Laurinha me roubaria um olhar... Prefiro lembrar de quando fizemos as pazes, meia hora depois, que lugar, hein? As ondas lambendo nossos corpos... Veja que coisa essa minha gaveta de lembranças, comecei falando da valsa triste, e enveredei pelo caminho dos sussurros. É que nossos sons insistem em morar aqui, e basta abrir uma porta, uma janela, que eles gritam sua falta.

Ontem, ao fim da valsa, foi difícil conciliar o sono. Cuidei de fazer o que não devia. Revirando armários, dei com os olhos no tal cd, o mesmo onde Chopin chorava o Noturno – eis o dono da melodia – trilha de nossas brigas. Na capa, confesso, acariciei seu nome escrito como se fossem suas melenas sedosas, cujo cheiro me vem agora, e sempre que eu preciso sofrer mais. Num gesto débil, até automático, pus a tocar no mesmo quarto, fechei a porta ao sair, sentei-me ao sofá, e aguardei o último acorde, e mais algum tempo depois, no vão afã de que a mesma porta se abrisse, trazendo de volta a minha vida.

Acordei com o sol se derramando por uma janela distraída que dormiu aberta...

texto: m

Foto: Margarida Amaral

quinta-feira, 1 de maio de 2008

lume era

era um amor tão bonito,
até parecia valer a pena,
aquele amor tatuado,
suado amor, de dor amena.
aquele amor infinito,
pleno de planos,
ausente de enganos.
um verso valsificado,
que já foi Tango,
Foxtrot, e virou Fado.
nessa viagem,
aquele amor longa metragem
teve vida curta,
um mero meteoro
pela noite apressado,
e tudo dele que restou:
esse desenho desanimado.

poesia: Múcio Góes